VOCÊ TEM BEM PRESENTE O QUANTO VALE A GRAÇA DIVINA?

“Dar o ar da graça” é só mais uma bela expressão da língua portuguesa na qual empregamos um termo que pode tanto significar favor, mercê, benevolência, estima, amizade quanto algo muito mais sublime e de caráter divino. Quando falamos de graça em termos teológicos, estamos falando de um dom interno, sobrenatural e gratuito, que Deus nos dá em relação à vida eterna.

A graça se divide em santificante (ou habitual) e graça atual. Só através da graça é possível ao cristão ser habitado pela vida divina. Divina? Sim, não é nenhum exagero dizer que através da graça santificante Deus habita a alma do cristão e nos dá participação na Sua natureza.

Sem dúvida alguma, se não fossem confirmadas pelas Sagradas Escrituras, tais afirmações pareceriam de todo extravagantes. Porém é o próprio São Pedro quem define tal verdade de fé: “O poder divino deu-nos tudo o que contribui para a vida e a piedade, fazendo-nos conhecer aquele que nos chamou por sua glória e sua virtude. Por elas, temos entrado na posse das maiores e mais preciosas promessas, a fim de tornar-vos por este meio participantes da natureza divina (2Pd 1, 3-4).

Por essa razão, afirma o catecismo que o sacramento do batismo nos torna filhos de Deus. Bom ter presente que do ponto de vista substancial não possuímos a natureza divina – o que nos torna mera criaturas de Deus. Porém, através da graça, que nos é infundida pelas águas batismais, alcançamos a filiação divina: “Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou Seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei, a fim de resgatar os que estavam sujeitos à Lei e para que todos recebêssemos a filiação adotiva” (Gal 4, 4-5).

Segundo nos ensina o Catecismo da Santa Igreja, “A graça santificante é um dom habitual, uma disposição estável e sobrenatural para aperfeiçoar a própria alma e torná-la capaz de viver com Deus, agir por seu amor. Deve-se distinguir a graça habitual, disposição permanente para viver e agir conforme o chamado divino, e as graças atuais, que designam as intervenções divinas, quer na origem da conversão, quer no decorrer da obra da santificação” (Catecismo da Igreja Católica, Art. II, § 2000).

Quando falamos em “Comunhão dos Santos”, estamos falando da comunicação que há por parte de todos os justos, todos aqueles cristãos em estado de graça; seja no Céu, na Terra ou no Purgatório.

Pode-se perder o estado de graça? Sim, infelizmente, através do pecado mortal. E pode-se recuperar a filiação divina pelo arrependimento sincero, pela contrição perfeita. Foi prevendo nossa fraqueza e miséria que Cristo instituiu o sacramento da penitência. Por meio da confissão de nossos pecados obtemos o perdão de nossas culpas e a restauração da vida sobrenatural.

Vale a pena ressaltar que a graça atual não destrói o nosso livre arbítrio. Ou seja, é possível resistir à graça de Deus, embora isso venha nos trazer infelizes consequências… Não devemos temer em nada a graça, pois como nos diz São Tomás de Aquino, ela “não destrói a natureza, mas a aperfeiçoa” (I 8 ad 2). E de forma muito semelhante também esclarece um contemporâneo seu, São Boaventura, que “a graça não se opõe à natureza, não a modifica, mas, pelo contrário, a conserva na sua condição essencial” (Ib. 467, 1).

Razão maior para que, em nossas orações, peçamos sempre a graça, esse dom maravilhoso que nos mantêm unidos a Deus e herdeiros do seu Reino.

Marcos A. Fiorito

Teólogo e historiador

(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)

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