Tão antiga quanto o mundo civilizado é a pergunta “por que existo?”. Sem dúvida é comum, em determinado período de nossa vida, colocar-se o problema de nossa existência, mesmo porque a rotina do dia a dia cansa, daí sentir aquela sensação de que o nosso viver não tem sentido. E isso não tem relação alguma com depressão, é simplesmente um problema existencial que atormenta a alma dos seres inteligentes.
É espantoso imaginar o contrário, que a pessoa viva sem, ao menos uma vez, se importar com a razão de seu existir. Os grandes sábios da antiguidade viviam entrecortados por esse problema. A teleologia estuda a finalidade, o objeto e o propósito do universo. Ela considera os seres quanto ao fim a que se destinam. Num de seus livros sobre a física, Aristóteles afirma que o fim é o princípio das ações humanas, sendo que o fim último do homem é a felicidade.
Na Grécia antiga, de tal forma os homens mais civilizados se punham o problema de o porquê existiam, que existir passou a ser objeto de estudo. Parmênides é o filósofo que inaugurou o estudo do ser (ontologia), pois procurava compreender o ser na sua totalidade. E note-se que ele voou alto, chegou mesmo a conceber que existia um Ser por excelência: uno, eterno, que não foi gerado e imutável. Ou seja, somente pela razão chegou a um conhecimento muito aproximado do conceito que nós cristãos fazemos de Deus.
E o homem da antiguidade peregrinou entre mitos e deuses, até que, com o nascimento de Cristo, a humanidade conheceu a Revelação que lhe apontou como fim parcial conhecer, amar e servir a Deus e, como fim último, gozar da visão beatífica na eternidade. São Tomás de Aquino afirma que esta visão é um “bem perfeito”, pois “aquieta todo desejo”. Ou seja, no Céu estaremos plenamente felizes, contemplando a Deus face a face, e nenhuma insatisfação nos incomodará.
De uma forma toda ela permeada de beleza, o Catecismo da Igreja Católica, em dois de seus parágrafos, resume a história da salvação, a finalidade para a qual nascemos e o destino final da criação:
“Deus, infinitamente Perfeito e Bem-aventurado em si mesmo, em um desígnio de pura bondade, criou livremente o homem para fazê-lo participar de sua vida bem-aventurada. Eis por que, desde sempre e em todo lugar, está perto do homem. Chama-o e ajuda-o a procurá-lo, a conhecê-lo e a amá-lo com todas as suas forças. Convoca todos os homens, dispersos pelo pecado, para a unidade de sua família, a Igreja. Faz isto por meio do Filho, que enviou como Redentor e Salvador quando os tempos se cumpriram. Nele e por Ele, chama os homens a se tornarem, no Espírito Santo, seus filhos adotivos, e portanto os herdeiros de sua vida bem-aventurada” (CIC, §1).
“A glória de Deus consiste em que se realize esta manifestação e esta comunicação de sua bondade em vista das quais o mundo foi criado. Fazer de nós ‘filhos adotivos por Jesus Cristo: conforme o beneplácito de sua vontade para louvor à glória da sua graça’ (Ef 1,5-6): ‘Pois a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus: se já a revelação de Deus por meio da criação proporcionou a vida a todos os seres que vivem na terra, quanto mais a manifestação do Pai pelo Verbo proporciona a vida àqueles que veem a Deus’. O fim último da criação é que Deus, Criador do universo, tornar-se-á ‘tudo em todas as coisas’ (1Cor 15,28), procurando, ao mesmo tempo, a sua glória e a nossa felicidade” (CIC, §294).
Infeliz da civilização pós-moderna, que vem perdendo a fé e o sentido do sagrado, revolvida que está na futilidade, nos prazeres transitórios e no lufa-lufa diário, veleidades que jamais preencherão o seu vazio.
E você, meu nobre irmão, vive também momentos de angústia em torno do sentido da vida? A explicação deste artigo o ajudou nesse sentido?
Marcos A. Fiorito
Teólogo e historiador
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)
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