NATAL E A PAGANIZAÇÃO DAS FESTAS CRISTÃS

O mês de dezembro se inicia e a festa magna da cristandade, o Natal, bate às nossas portas. Seja por sentimento de fé ou razões meramente comerciais, o mundo em torno de nós vai tomando uma fisionomia alegre e festiva. Tudo vai se enfeitando de vermelho, branco e dourado. Guirlandas, bolas coloridas, coroas do advento, luzes e, claro, não podia faltar o Papai Noel.

Presentes, cartões, confraternizações, perus, pernis, vinhos e champanhes… Ah, é Natal!

O tempo passa e a consciência profundamente religiosa a respeito das festas cristãs vai ficando cada vez mais perdida na memória dos ocidentais. Tudo vai se revestindo de ares pagãos.

No Brasil, onde o Carnaval é tão comemorado, poucos católicos sabem que a festa, desde a Idade Média, celebra a despedida da carne. Sim, em tempos idos, não se comia carne durante a Quaresma (40 dias antes da Páscoa); de maneira que os fiéis davam adeus à carne, festejando-a. A palavra carnaval vem do latim: carnis levale, que significa “festa da carne”. Porém, as comemorações antigas em quase nada se assemelham à de hoje.

Para não ir tão longe, no final do século XIX e início do século XX carros alegóricos desfilavam nas ruas levando famílias que ostentavam alegria e decência. As pessoas, fantasiadas de formas bem criativas, levavam consigo lanches à base de carne, afinal estavam se despedindo da iguaria. Serpentinas, confetes e músicas de bom gosto animavam a festa. Havia também o Carnaval de salão, porém totalmente distinto e decoroso.

Hoje, lamentavelmente, as festas carnavalescas são sinônimos de desvarios de toda ordem: pornografia, bebida, droga e muita violência.

A falta de senso religioso em nossos dias é tão grave, que em muitos lugares desrespeitam os dias santos com bailes de Carnaval fora de época, como é o caso de Olinda, onde estendem a folia pela Quarta-feira de Cinzas; e em São Paulo, onde um clube famoso de futebol festeja o Sábado de Aleluia dando um baile carnavalesco.

A solenidade da Páscoa, celebração da redenção do gênero humano e ressurreição de Nosso Senhor, também tem perdido o seu sentido mais intrínseco. Para o mundo cristão, o significado verdadeiro da Redenção é o fim de 4 mil anos de espera. Até que esse magnifico evento se realizasse, os justos iam para o Limbo – também chamado de Seio de Abrão – e ali aguardavam a vinda do Messias.

Hoje, boa fatia dos cristãos não acompanha as cerimônias de Semana Santa, sequer reza a via Sacra. E uma minoria participa da Santa Eucaristia. Afinal, o importante mesmo é trocar ovos de chocolate e participar da ceia pascal… Como o homem é insensato: não se importa com os preceitos cristãos, não frequenta suas cerimônias religiosas, porém comemora o dia santo mesmo desconhecendo ou desprezando seu conteúdo.

Quanto ao Natal, pouca gente sabe que a figura do Papai Noel surgiu como versão laica e comercial de São Nicolau, bispo de Mira, na Ásia Menor (Séc. IV). De família muito abastada, desde jovem fazia doações anônimas de dinheiro, roupas e alimentos aos mais necessitados. Contam que ele lançava à noite nas chaminés das casas das crianças humildes, sacos com presentes para que elas pudessem vê-los de manhã, ao acordar. Doce surpresa!

Na verdade, paulatinamente, vamos assistindo à paganização das tradições cristãs. Uma ceia de Natal ou Páscoa não se difere muito de um almoço ou jantar qualquer. Não há quase preocupação em ornar a mesa com símbolos religiosos. Participar da Santa Missa é algo que vai se tornando muito raro nessas ocasiões, e, muitas vezes, isso é feito apenas de forma ritualística, sem a devida piedade. Muitos sequer lembram de rezar antes da refeição ou agradecer depois dela. A conversa gira em torno de banalidades… E, no fim, tudo termina com muita bebida, gargalhadas, música alta e para lá de profana. Triste ocaso do sagrado…

Marcos A. Fiorito

Teólogo e historiador

(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)

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