Sexta-feira à tarde, um fiel adentra uma igreja chamada Nossa Senhora de Lourdes. Algumas vezes havia passado em frente àquele templo de arquitetura não muito atraente, mas naquela sexta ele decidira entrar para rezar e conhecer o seu interior. No entanto, não havia uma alma sequer ali… Imagens? Apenas uma, a da Padroeira, Nossa Senhora de Lourdes, numa capela ao lado da porta principal (ao menos uma!). No altar, nada, nem um crucifixo, só uma simples pintura retratando Jesus e seus discípulos. Na entrada, a pia de água benta completamente seca e suja de poeira. Porém, muitos frascos de álcool gel… Nada contra, época de pandemia, zelar pela higiene é dever de todos, de maneira que uma instituição como a Igreja não pode ficar de fora. Mas o zelo pelo corpo não pode ser maior que o zelo pela alma; a impressão que dava, ao ver tantos frascos e suportes, que ali a água benta fora trocada pelo álcool gel.
Resignado, o fiel procura pelo Santíssimo, mas não havia sacrário no altar central. Como não havia altares laterais, resolveu andar nas adjacências da igreja, até que encontrou um salão onde muitos idosos recebiam tratamento fisioterápico. Perguntou a um senhor onde ficava a capela do Santíssimo, e este lhe indicou uma escada que, aparentemente, conduzia ao coro, mas, na verdade, levava à capela do Santíssimo. Ali também tudo era muito frio e vazio. Não havia lamparina que indicasse a presença do Santíssimo Sacramento, o que lhe pareceu muito estranho, mas ao deter seu olhar sobre uma luminária que ficava a um metro e pouco acima do sacrário, notou que havia uma discreta luz vermelha fazendo as vezes de lamparina. A sensação toda era de ausência de sacralidade, desde a falta de água benta até a frieza e vaziez do conjunto.
Alguém, naturalmente, poderia argumentar que a falta de água benta se deve ao risco de infecção pelo coronavírus, porém, sem entrar no mérito científico do risco de infecção por aquele sacramental, havia, justamente, muito álcool gel no local para que o cristão pudesse fazer uso após benzer-se. Ou seja, nada justifica.
Toda essa ausência de sacralidade parece ser uma imagem da decadência em que vivemos em matéria de fé, pois o que mais se vê hoje é a preocupação com o corpo, com a saúde, com a beleza estética, mas quase nada com o espírito… Lembrando que a palavra “santidade” tem sua raiz em “salus”, que em latim significa saúde.
A propósito, vale aqui recordar os benefícios da água benta. Segundo Mons. Gaume, ao fazer uso dela, podemos esperar 5 efeitos:
- Expulsar o demônio dos lugares que ele pode infestar e de fazer cessar os males que ele causou;
- De o afastar de nós, dos lugares que habitamos e de tudo aquilo que serve para nossos usos;
- Servir para a cura das doenças;
- Nos atrair em toda a ocasião à presença e ao socorro do Espírito Santo, para o bem de nossa alma e de nosso corpo;
- De apagar os pecados veniais.
Fonte: “Cathècisme de perséverance”, por Mons. Gaume, 11a. edição, Librairie Catholique Emmanuel Vitté, 7o. Volume, pag. 235.
Marcos A. Fiorito
Teólogo e historiador
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)
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