Em agosto de 2014, a notícia da morte do ator Robin Williams chocou o mundo. Depois de algum tempo de incerteza, os peritos concluíram o suicídio como a causa de sua morte. De fato, ele vinha sofrendo com diversos problemas, entre eles, a tão indesejada depressão. À primeira vista, é difícil entender como um homem favorecido com as mais ambiciosas conquistas do ponto de vista mundano, pudesse sentir-se tão infeliz a ponto de abreviar os seus dias. Afinal, ele era um ator de sucesso, comediante de incontestável talento, conhecido no mundo todo e repleto de fãs. Durante sua carreira artística, pôde experimentar do que o mundo oferece de melhor – e de pior também, como álcool e drogas…
Sua vida faz-nos lembrar de alguns trechos do Livro do Eclesiastes, que descreve a frustração do Rei Salomão depois de saborear toda sorte de prazeres lícitos e ilícitos, e que, aparentemente, lhe traria a tão almejada felicidade:
“Eu disse comigo mesmo: Vamos, tentemos a alegria e gozemos o prazer. Mas isso é também vaidade. Do riso eu disse: Loucura! e da alegria: Para que serve? Resolvi entregar minha carne ao vinho, enquanto meu espírito se aplicaria ainda à sabedoria; procurar a loucura até que eu visse o que é bom para os filhos dos homens fazerem durante toda a sua vida debaixo dos céus.
Empreendi grandes trabalhos, construí para mim casas e plantei vinhas; fiz jardins e pomares, onde plantei árvores frutíferas de toda espécie; cavei reservatórios de água para regar o bosque. Comprei escravos e escravas; e possuí outros nascidos em casa. Possuí muito gado, bois e ovelhas, mais que todos os que me precederam em Jerusalém.
Amontoei prata e ouro, riquezas de reis e de províncias. Procurei cantores e cantoras, e o que faz as delícias dos filhos dos homens: mulheres e mulheres. (…) Tudo que meus olhos desejaram, não lhes recusei; não privei meu coração de nenhuma alegria. Meu coração encontrava sua alegria no meu trabalho; este é o fruto que dele tirei. Mas, quando me pus a considerar todas as obras de minhas mãos e o trabalho ao qual me tinha dado para fazê-las, eis: tudo é vaidade e vento que passa; não há nada de proveitoso debaixo do sol” (Ecl 1, 1-11).
Santo Afonso de Ligório, o glorioso fundador da congregação do Santíssimo Redentor, afirmou em seus escritos que na vida de quem ama a Jesus Cristo, não existe ambição desmedida pelas coisas materiais. Sua ambição é o próprio Cristo. O desprendimento, o desapego das coisas deste mundo é a força daquele que ama realmente a Deus.
Em teoria, todos conhecem o preceito cristão que prega a necessidade de desapegar-se das coisas do mundo, de esvaziar-se de si mesmo para encher-se de Deus e, assim, alcançar a união com o Criador. Porém algo em que bem poucos refletem é do quanto a natureza nos prepara para o desapego através do processo de envelhecimento. Nossos primeiros anos são cheios de vida, de fantasias, de sonhos, de esperanças e ambições. Queremos sorver tudo o que há de mais prazeroso. Entretanto, com o tempo nosso edifício vai apresentando rachaduras e, assim, vamos entrando em decadência.
Os médicos nos pedem que cortemos certos alimentos – alguns especialmente apetecíveis; certas bebidas também são eliminadas do cardápio… Perdemos a natural hidratação da pele, que se torna flácida e vai se enchendo de rugas. Músculos vão perdendo massa e os ossos ficando mais frágeis. Há perda de memória, o raciocínio fica mais lento e a visão apresenta problemas. Por fim, chega-se a um grau tão severo de decrepitude, que gozar a vida torna-se praticamente impossível. Faz-nos lembrar de uma espirituosa expressão atribuída ao filólogo francês Henri Etienne: “Si jeunesse savait, si vieillesse pouvait.” “Se a juventude soubesse, se a velhice pudesse!”.
Vamos refletir? Será que não seria mais proveitoso cuidarmos da nossa vida espiritual em vez de lutarmos tão insistentemente contra os efeitos do tempo?
Marcos A. Fiorito
Teólogo e historiador
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)
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