Muita gente desconhece o poder da graça atual, aquela que atua pontualmente em determinadas situações, como é a graça da conversão, a do arrependimento, a graça que nos ilumina nas horas mais intrincáveis, a graça de vencer as tentações, etc. Porém, maior surpresa diz respeito à graça da perseverança e salvação, que Deus, comumente falando, só concede a quem pede. Por isso Nosso Senhor nos advertiu que devemos rezar e orar para não cairmos em tentação, pois o espírito pode até estar pronto, mas a carne é frágil (Mt 26, 41).
Um dos melhores livros sobre a oração foi escrito por Santo Afonso Maria de Ligório, sacerdote italiano do século XVIII, fundador dos Redentoristas. Ele escreveu inúmeras obras, algumas de volume bem considerável, no entanto, deu especial valor ao seu pequeno livro sobre a oração, “o grande meio da salvação”. Abaixo transcrevemos a parte principal referente ao título deste artigo. Boa leitura e bom proveito!
“Sem socorro da graça, nada de bom podemos fazer: ‘Sem mim nada podeis fazer’ (Jo 15, 5). Nota Santo Agostinho sobre estas palavras, que Jesus Cristo não disse: ‘nada podeis cumprir’, mas, “nada podeis fazer”. Com isso, quis Nosso Senhor dar-nos a entender que sem a graça, nem mesmo podemos começar a fazer o bem. E o Apóstolo chega a dizer que, por nós, nem sequer podemos ter o desejo de fazer o bem: ‘Não somos capazes de, por nós mesmos, ter algum pensamento, mas toda a nossa força vem de Deus’ (2Cor 3, 5). Se nem sequer podemos pensar no bem, como podemos, então, desejá-lo? O mesmo nos demonstram muitos outros textos das Sagradas Escrituras: ‘Deus é quem opera tudo em todos’ (1Cor 12, 6). ‘Farei que vós andeis nos meus preceitos e que guardeis as minhas ordens e as pratiqueis’ (Ez 36, 27). Por isso, como diz São Leão Papa, ‘Nenhum bem faz o homem sem que Deus lhe dê a sua graça para isso’. […]
“Mas, este auxílio da graça, normalmente o Senhor concede só a quem ora, conforme a célebre sentença de Genadio: ‘Cremos não chegar ninguém à salvação sem que Deus o conceda. Ninguém, depois de convidado, obtém a salvação, sem que Deus o ajude. Só quem reza merece o auxílio de Deus’.
Se é certo que, sem o socorro da graça, nada podemos, e se esse socorro é concedido por Deus unicamente aos que rezam, segue-se que a oração nos é absolutamente necessária para a salvação. Verdade é que há certas graças primeiras que são a base e o começo de todas as outras graças e que são concedidas sem a nossa cooperação, como por exemplo a vocação à fé, à penitência. No dizer de Santo Agostinho, Deus as concede mesmo a quem não as pede. Entretanto, quanto às outras graças, especialmente em relação à graça de perseverança, tem por certo o Santo Doutor que não são concedidas senão aos que pedem.”
Fonte: Livro “A Oração” de Santo Afonso Maria de Ligório.
Marcos A. Fiorito
Teólogo e historiador
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)
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