Muitos católicos se perguntam até que ponto é lícito doarem seus órgãos. Eles desconhecem o pensamento da Igreja a respeito dessa importante realidade de nossos dias, que ganha cada vez mais admiradores e adeptos. Por isso achamos oportuno escrever um post a respeito, de maneira a esclarecer e contribuir com o assunto.
Sim, a Igreja é favorável e vê nisso uma manifestação do amor ao próximo ensinado por Nosso Senhor Jesus Cristo: “Este é meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se praticais o que vos mando” (Jo 15, 13-14).
No entanto, existem condições que devem ser respeitadas. Abaixo transcrevemos o que diz o Catecismo da Igreja Católica sobre essa interessante questão:
“O transplante de órgãos é conforme à lei moral se os riscos e os danos físicos e psíquicos a que se expõe o doador são proporcionais ao bem que se busca para o destinatário. A doação de órgãos após a morte é um ato nobre e meritório e merece ser encorajado como manifestação de generosa solidariedade. O transplante de órgãos não é moralmente aceitável se o doador ou seus representantes legais não tiverem dado seu expresso consentimento para tal. Além disso, é moralmente inadmissível provocar diretamente mutilação que venha a tornar alguém inválido ou provocar diretamente a morte, mesmo que seja para retardar a morte de outras pessoas” (CIC, § 2296).
São João Paulo II, na sua encíclica Evangelium Vitae (25 de março de 1995), também teceu comentários a respeito da doação de órgãos e salientou que faz parte dos atos de heroísmo do quotidiano:
- “Em coerência com o culto espiritual agradável a Deus (cf. Rm 12, 1), a celebração do Evangelho da vida requer a sua concretização sobretudo na existência quotidiana, vivida no amor pelos outros e na doação de si próprio. Assim, toda a nossa existência tornar-se-á acolhimento autêntico e responsável do dom da vida e louvor sincero e agradecido a Deus que nos fez esse dom. É o que sucede já com tantos e tantos gestos de doação, frequentemente humilde e escondida, cumpridos por homens e mulheres, crianças e adultos, jovens e idosos, sãos e doentes.
É neste contexto, rico de humanidade e amor, que nascem também os gestos heróicos. Estes são a celebração mais solene do Evangelho da vida, porque o proclamam com o dom total de si; são a manifestação refulgente do mais elevado grau de amor, que é dar a vida pela pessoa amada (cf. Jo 15, 13); são a participação no mistério da Cruz, na qual Jesus revela quão grande valor tem para Ele a vida de cada homem e como esta se realiza em plenitude no dom sincero de si. Além dos fatos clamorosos, existe o heroísmo do quotidiano, feito de pequenos ou grandes gestos de partilha que alimentam uma autêntica cultura da vida. Entre estes gestos, merece particular apreço a doação de órgãos feita, segundo formas eticamente aceitáveis, para oferecer uma possibilidade de saúde e até de vida a doentes, por vezes já sem esperança.”
O sumo pontífice não poderia ser mais claro em suas palavras. A licitude da doação de órgãos está amparada no amor e no heroísmo da entrega pelo bem do próximo, como nos foi ensinado por Jesus. A Igreja, fiel ao legado de Cristo, como “Mãe e Mestra da verdade”, indica-nos o caminho mais perfeito rumo à construção do Reino e à salvação.
Marcos A. Fiorito
Teólogo e historiador
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)
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