Após milênios de trevas, o mundo, por fim, viu o advento do Messias, Nosso Senhor Jesus Cristo, nascido humildemente numa singela manjedoura. Naturalmente, Ele foi pedra de escândalo em seu tempo, já que a maior parte dos povos eram pagãos e viviam entregues a costumes torpes e pecaminosos. Aqueles que representavam o povo eleito, escribas, fariseus, saduceus, não eram na sua maioria verdadeiros seguidores da religião judaica.
Cristo começou a sua vida pública pregando ao povo uma Lei que não era contrária à antiga Lei, mas complemento e elevação desta. Enquanto os fariseus se contorciam e tentavam desqualificar os ensinamentos d’Ele, inclusive armando ciladas através de perguntas capciosas, Nosso Senhor esforçava-se na tarefa de estabelecer o seu reino, deixando bem claro que não havia lugar para Ele neste mundo. Muitos judeus esperavam uma restauração do reino de David, a expulsão dos romanos e o restabelecimento do reino de Israel. Portanto, parcela do povo eleito tinha uma concepção terrena do Messias, imaginavam um salvador bem distinto da pessoa divina de Cristo. Este, pelo contrário, veio pregar um reino que deveria se estabelecer de forma sobrenatural nos corações dos homens; e, a partir daí, mudar a face da Terra. Era a Santa Igreja que nascia, sobre os escombros do paganismo e da antiga lei mosaica.
Nesse sentido, um escritor eclesiástico antigo, conhecido como “Pseudo-Crisóstomo”, demonstrou que o Messias não veio contrariar a Lei antiga, porque Ele, Divino, é mais amplo que ela, além de Senhor da Lei. “Quem, pois, cumpre os mandamentos de Cristo, tacitamente cumpre neles também os da Lei” (Op. imp., v. 21). O autor ensina que de quatro formas Jesus deu pleno cumprimento à Lei:
1) esclarecendo o conteúdo da revelação, revelando-nos a Santíssima Trindade;
2) esclarecendo e precisando o conteúdo moral, “sobretudo quanto aos atos internos”;
3) a antiga liturgia deixou de ser uma simples prefigura, com sacrifício de animais, para realizar-se n’Ele plenamente, com o sacrifício salvífico da Cruz;
4) n’Ele se realizaram integralmente as profecias “além de toda expectativa”, já que era o próprio Filho de Deus encarnado.
Belos ensinamentos que datam do século IV da nossa era. Os escritores eclesiásticos nos legaram verdades transmitidas por Cristo que chegaram até nós de viva voz. Essas doutrinas perfazem a Tradição cristã, fonte de Revelação juntamente com as Sagradas Escrituras.
Marcos A. Fiorito
Teólogo e historiador
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)
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