Não pode existir santidade sem virtude, assim como não pode existir trevas sem pecado. É muito comum a distinção de virtude como um hábito bom e de vício como um hábito pecaminoso. O compêndio do Catecismo da Igreja sintetiza muito bem os significados de virtude, pecado e vício. Para não confundir o leitor, os trechos do compêndio serão transcritos em itálico e negrito, os nossos comentários em fonte regular.
O que é a virtude?
A virtude é uma disposição habitual e firme para fazer o bem. Há virtudes humanas e virtudes teologais. As virtudes humanas são perfeições habituais e estáveis da inteligência e da vontade, que regulam os nossos atos, ordenam as nossas paixões e guiam a nossa conduta segundo a razão e a fé. Adquiridas e reforçadas por atos moralmente bons e repetidos, são purificadas e elevadas pela graça divina.
As principais virtudes humanas são as cardeais, que reagrupam todas as outras e que constituem a charneira da vida virtuosa. São elas: prudência, justiça, fortaleza e temperança. Já as virtudes teologais são as virtudes que têm como origem, motivo e objeto imediato o próprio Deus. São infundidas no homem com a graça santificante, tornam-nos capazes de viver em relação com a Trindade e fundamentam e animam o agir moral do cristão, vivificando as virtudes humanas. Elas são o penhor da presença e da ação do Espírito Santo nas faculdades do ser humano. As virtudes teologais são: fé, esperança e caridade.
Antes do cristianismo, muitos pagãos, como os estoicos, cultivavam as virtudes humanas. Alguns a cultivavam, inclusive, de forma exemplar. No entanto, elas só podem ser eminentemente elevadas com a ajuda da graça, que é um dom sobrenatural que nos é concedido em função da ação redentora de Cristo. Mesmo os justos do Antigo Testamento, como Abraão, Isaac, Moisés, Davi, os santos profetas e tantos outros, foram contemplados pela graça divina, porém a receberam de forma antecipada e pelos méritos da Redenção.
O que é o pecado?
É «uma palavra, um ato ou um desejo contrários à Lei eterna» (S. Agostinho). É uma ofensa a Deus, na desobediência ao seu amor. Fere a natureza do homem e atenta contra a solidariedade humana. Cristo, na sua Paixão, revela plenamente a gravidade do pecado e vence-o com a sua misericórdia. […]
Os Mandamentos da Lei de Deus não são arbitrários; são conformes à natureza divina. Ou seja, não são como muitas leis ou regras que existem entre nós, que podem mudar aleatoriamente. Por exemplo, obrigar a usar máscara durante a pandemia; depois desobrigar o uso pelo fato de não haver mais risco à saúde, etc. Os Mandamentos não são meras convenções, mas segundo a ordem divina. Roubar sempre será errado, porque ofende a natureza de Deus; o mesmo no que diz respeito ao adultério, à difamação, a cobiçar as coisas alheias, etc.
O que são os vícios?
Os vícios, sendo contrários às virtudes, são hábitos perversos que obscurecem a consciência e inclinam ao mal. Os vícios podem estar ligados aos chamados sete pecados capitais, que são: soberba, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e preguiça ou negligência.
Uma das consequências mais graves do vício está no fato de o pecador perder a consciência de o quão grave são seus atos e o quanto está se afastando de Deus. Dá-se um embrutecimento da consciência a ponto de o viciado não mais examiná-la, não mais medir o tamanho do seu erro. O hábito ruim, a depravação, causa o empedernimento, que é como um enrijecimento no pecado. O vício contribui demasiadamente para a perda da noção do bem e do mal, do certo e do errado.
Temos responsabilidade nos pecados cometidos por outros? Existe esta responsabilidade quando, culpavelmente, neles cooperamos.
Fonte: Compêndio do Catecismo da Igreja Católica | https://www.vatican.va/archive/compendium_ccc/documents/archive_2005_compendium-ccc_po.html
Marcos A. Fiorito
Teólogo e historiador
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)
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