Hoje, repetidas vezes, ouvimos gente dizer que a maioria dos Mandamentos não se aplicam mais, como se Deus mudasse conforme o vento, conforme as tendências da moda, que hora dita uma coisa, ora outra. Deus é imutável, assim como as suas leis. Quando abrimos as Sagradas Escrituras e percorremos o Antigo Testamento, nos deparamos com a empolgante história da saga de Moisés e do povo hebreu em busca da Terra Prometida. Entre os acontecimentos prodigiosos narrados no livro do Êxodo, temos o dia em que o Senhor entregou a Moisés os Dez Mandamentos, escritos em duas tábuas de pedra (Ex 20, 1-17).
Há quem pergunte, naturalmente, se faz sentido hoje em dia observar leis tão antigas, se elas não estariam obsoletas. Um renomado professor de Filosofia e Direito de São Paulo, ao expor sobre ética e moral, afirmou que os dez mandamentos cobrem insuficientemente o universo de problemas éticos e morais existentes entre nós. Ele argumentava que se em vez de 10 fossem 1000, também não adiantaria, pois novos problemas surgem todos os dias.
Será verdade que para os problemas morais de nossos dias os dez mandamentos são insuficientes? Se nós raciocinarmos com base nos moldes modernos, onde temos calhamaços e calhamaços de códigos com leis, reformulados todos os dias por nossos legisladores que lhes acrescentam emendas e leis novas, evidentemente não se pode conceber que apenas dez preceitos irão dar conta. Mas se pensarmos que o Decálogo (do grego, “dez palavras”) resume perfeitamente os princípios que devem reger as leis dos homens, segundo a ordem natural, então tudo muda.
Um estudo sério em torno dos dez mandamentos aponta para o fato de que eles são divina e genialmente concebidos, já que deles pode se depreender inúmeras outras leis. Por exemplo, não havia nos tempos de Moisés gente que consumia drogas como hoje; havia, sim, embriaguez pelo uso imoderado do álcool, e há quem diga que já havia o uso de algum tipo de erva alucinógena… Seja como for, aqui se pode aplicar perfeitamente o 5º Mandamento, que proíbe o assassínio, pois são substâncias que intoxicam e prejudicam de forma severa a saúde.
Fala-se em costumes novos que desafiam as nossas leis, como se pode ver com a era digital, que traz hábitos e crimes totalmente inéditos. Porém tudo isso pode ser, de alguma forma, compreendido pelos Mandamentos. Por exemplo, um jovem que passa o dia todo diante do computador jogando ou vendo pornografia transgride o 1º Mandamento, que ordena amar a Deus sobre todas as coisas; transgride também o 6º Mandamento, porque peca contra a castidade; e, provavelmente, fere o 4º Mandamento, porque os pais devem continuamente pedir a ele que use o computador de forma razoável e moderada, no entanto ele os desobedece…
Assim, poderíamos aplicar indefinidamente os mandamentos da lei de Deus sobre tantos fatos e hábitos inusitados. Não é à toa que o Catecismo da Igreja Católica afirma que ele “enuncia os princípios da vida válidos para todos os homens” (Catecismo da Igreja Católica, Art. 3 § 2049). Ou seja, longe de ser obsoleto, o Decálogo é perfeitamente atual e oportuno.
Marcos A. Fiorito
Teólogo e historiador
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)
Está acompanhando os nossos artigos? Escreva-nos e sugira algum tema católico de seu interesse. Deixe o seu comentário logo abaixo!