A BÍBLIA ENSINA O DOGMA DA VIRGINDADE PERPÉTUA DE MARIA?

Em um artigo anterior, vimos que a Bíblia não é contra o dogma da virgindade perpétua de Maria. Mas será que a Bíblia ensina o dogma da virgindade perpétua de Maria, ou esse dogma só foi transmitido pela Tradição oral? A resposta a essa pergunta é possível através de duas linhas de argumentação.

A Bíblia insinua que o Senhor Jesus era o filho único da Virgem Maria

Em primeiro lugar, algumas passagens bíblicas insinuam que o Senhor Jesus era o filho único da Virgem Maria.

Em Lc 2, 40-52, quando o Menino Jesus tinha doze anos e foi a Jerusalém com seus pais, nenhuma menção é feita a outros filhos de São José e Nossa Senhora. A passagem fala apenas de “parentes” (“syngenes”), palavra ampla que indica pessoas pertences a uma mesma família ou clã, numa extensão maior que a da família nuclear (cf. Mc 6, 4; Lc 21, 16). Jesus aparece, assim, como o filho único da Virgem Maria. Se Nossa Senhora teve outros filhos além de Nosso Senhor, era de se esperar que ela já os tivesse depois de doze anos do nascimento do Cristo.

Em Mc 6, 3, quando o Senhor Jesus vai a Nazaré e começa a falar na sinagoga, as pessoas perguntam: “Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria…?” (cf. Mt 13, 55). O grego usa um artigo definido em “o filho de Maria”, dando a entender que Jesus é o filho único de Maria Santíssima. Se a Virgem tivesse outros filhos, o artigo definido não teria sido utilizado.

Finalmente, em Jo 19, 26-27, quando o Senhor Jesus Cristo está na cruz, ele entrega sua Mãe aos cuidados do discípulo amado (São João): “‘Mulher, eis o teu filho!’ Depois disse ao discípulo: ‘Eis tua mãe!’ A partir daquela hora, o discípulo a acolheu em sua casa”. Essa ação do Cristo só faz sentido se ele é o filho único da Virgem. Se ela tivesse outros filhos, teria sido entregue aos cuidados deles.

Se o Senhor Jesus é o filho único da Virgem Maria, como é insinuado nas passagens bíblicas acima, e assumindo que não havia problemas de esterilidade na Sagrada Família, somos levados a entender que não houve relação sexual entre Nossa Senhora e São José. Essa inferência é confirmada pela segunda linha de argumentação.

A Bíblia sugere que a Virgem Maria fez um voto de virgindade

A narrativa da Anunciação, em Lc 1, 26-38, sugere que a Virgem Maria fez um voto de permanecer virgem. Nessa passagem, o anjo Gabriel aparece à Virgem (Lc 1,26-28) e anuncia que ela terá um filho (Lc 1, 31-33). Nossa Senhora, porém, pergunta: “Como acontecerá isso, se não conheço homem algum?” (Lc 1, 34).

Essa pergunta da Virgem Maria pode parecer sem sentido. Como o anjo não lhe disse que a concepção seria imediata (apesar de que seria) e como ela era noiva de São José (Lc 1, 27), seria natural que ela entendesse que teria um filho através do seu futuro casamento com São José. Mas Nossa Senhora não considera essa possibilidade.

A explicação para isso está em sua afirmação: “não conheço homem algum”. O verbo “conheço” em grego (“ginosko”), que aqui significa “conhecer” no sentido sexual (cf. Mt 1, 25), está no tempo presente do modo indicativo, o que no grego frequentemente indica um presente costumeiro, usado para uma ação que acontece regularmente ou para um estado contínuo. Nossa Senhora não está dizendo apenas que nunca conheceu um homem até aquele momento, mas que nunca conheceria um homem em toda a sua vida. Não conhecer homem algum era um estado contínuo para ela. Ou seja, a Virgem Maria tinha feito um voto de permanecer virgem, mesmo após seu casamento com São José, e por isso ela estranha o anúncio do anjo de que teria um filho.

Isso não é impossível. Ainda que o voto de virgindade fosse incomum entre os judeus, não era completamente estranho. Além de São João Batista, o Senhor Jesus e possivelmente alguns dos apóstolos (como São João), alguns judeus da comunidade dos essênios também praticavam o celibato.

Mesmo com um voto de virgindade, Nossa Senhora foi dada em casamento a São José, como era o costume entre os judeus. Mas podemos imaginar que, sendo um homem justo (Mt 1, 19), quando São José soube desse voto, não o anulou (cf. Dt 30), e também se comprometeu a um ideal de virgindade (cf. Mt 1, 25).

As duas linhas de argumentação acima nos levam a responder afirmativamente a pergunta inicial. A Bíblia não apenas não é contra o dogma da virgindade perpétua de Maria, como também ensina essa verdade de fé. Manifestemos, portanto, nossa fé nesse dogma, rezando:

Ave, Rainha do céu;
ave, dos anjos Senhora;
ave, raiz, ave, porta;
da luz do mundo és aurora.
Exulta, ó Virgem tão bela,
as outras seguem-te após;
nós te saudamos: adeus!
E pede a Cristo por nós!
Virgem Mãe, ó Maria!

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André Aloísio

Teólogo

(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)

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