Você provavelmente já se deparou com pessoas que acusam os católicos de fazerem vãs repetições ao orarem o Rosário. Essas pessoas usam traduções da passagem de Mateus 6, 7, que dizem o seguinte: “E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos” (Almeida Revista e Atualizada). Porém, um exame desse versículo no idioma original demonstra que essa tradução, e a sua consequente interpretação, são equivocadas.
O verbo grego traduzido como “useis de vãs repetições” (“battalogeo”) aparece apenas nesta passagem em todo o Novo Testamento. Fora da Bíblia, esse verbo só aparece em um autor, em uma forma um pouco diferente (“battologeo”), e o substantivo equivalente (“battologia”) em dois autores, com o sentido de “tagarelar”, “falar à toa”, “falar sem pensar”, “conversa tola”.
Desse modo, o Senhor Jesus Cristo não está condenando fazer repetições na oração, mas falar demais sem a devida reflexão. Isso também pode ser percebido pelo restante do versículo acima, que menciona o “muito falar” (“polylogia”). Uma melhor tradução de Mateus 6, 7, portanto, seria a seguinte: “Quando orardes, não useis de muitas palavras como fazem os gentios, pois eles pensam que à força de muitas palavras serão atendidos” (Tradução oficial da CNBB).
Jesus não poderia estar proibindo repetições na oração, porque isso acontece na Bíblia o tempo todo. Abraão repetiu várias vezes a mesma pergunta para Deus em Gênesis 18, 22-33. No Salmo 135 (136), o salmista repete várias vezes o refrão “sua misericórdia é para sempre”. Os seres viventes de Apocalipse 4, 8 repetem dia e noite no céu: “Santo! Santo! Santo! Senhor Deus Todo-Poderoso, aquele ‘que era, que é e que vem’!”. E o próprio Senhor Jesus repetiu a mesma oração três vezes no Jardim do Getsêmani: “Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice. Contudo, não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mateus 26, 39. 42. 44).
Longe de ser algo proibido, fazer repetições na oração é algo esperado daqueles que amam. Quando eu namorava minha esposa, escrevi uma carta a ela em que eu lhe dizia “Eu te amo!” repetidas vezes, preenchendo várias linhas e folhas. Provavelmente ninguém veria isso como uma vã repetição, mas como uma verdadeira manifestação de amor. Da mesma forma, repetir “Pai nosso, que estais nos céus, santificado seja o vosso nome”, “Ave Maria, cheia de graça, […] bendita sois vós entre as mulheres”, “Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo”, não é nada mais do que o transbordar de um coração que tanto ama que não consegue dizê-lo apenas uma vez.
Você ama a Deus de todo coração? Você ama Nossa Senhora como sua Mãe? Que tal demonstrar esse amor neste momento, rezando um Terço e repetindo várias vezes o quanto você os ama? O Senhor lhe convida: “mostra-me o teu rosto e a tua voz ressoe aos meus ouvidos, pois a tua voz é suave e o teu rosto é lindo!” (Cântico dos Cânticos 2, 14).
Assista também: Como explicar sobre as repetições do Terço?
André Aloísio
Teólogo
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)
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