Vivemos dia após dia buscando sempre satisfazer as nossas vontades, mas você tem parado para pensar no grande dia de sua morte? Uma coisa é certa, ele chegará.
A pergunta-tema deste artigo foi pensada para provocar em você uma reflexão sobre como tem levado a sua vida, pois seremos julgados de acordo com nossas obras, como nos revela a Escritura. A doutrina da Igreja nos diz que depois da morte há o juízo particular de cada alma; e o destino dela é definido. Para auxiliar a nossa compreensão e nos direcionar, utilizaremos das palavras de Santo Afonso sobre esse tema tão necessário. Acompanhe:
Desgraçada da alma cuja vida no juízo não for achada conforme à de Jesus Cristo! Sem demora, o divino Juiz pronunciará contra ela a sentença de condenação eterna – Aparta-te de mim, maldita, para ires arder eternamente no fogo. Meu irmão, agora vivemos em segurança e com indiferença ouvimos falar do juízo; mas quantos há que assim viveram e agora estão no inferno! E quem nos assegura que o mesmo não sucederá conosco? Se a morte nos surpreendesse na primeira noite, qual seria a nossa sentença?
I. Desgraçada da alma cuja vida no juízo não for achada conforme à de Jesus Cristo! Tendo um dos cortesãos de Filipe II dito uma mentira a seu amo, este o repreendeu dizendo: “É assim que me enganas?” O desgraçado, ao voltar à casa, morreu de pesar. Que fará pois, que responderá o pecador a Jesus Cristo, seu Juiz?… Fará como aquele homem do Evangelho que, apresentando-se no banquete nupcial sem o vestido conveniente, se calou, não sabendo que responder: At ille obmutuit. O próprio pecado lhe fechará a boca e o cobrirá de tal forma de vergonha, que, no dizer de São Basílio, a confusão será então para o pecador um tormento mais horrível que o fogo do inferno.
O divino Juiz pronunciará sem demora a sentença inapelável: Discedite a me, maledicti, in ignem aeternum – “Aparta-te de mim, maldito, e vai arder para sempre no fogo eterno.” Oh, que voz aterradora será esta! Santo Anselmo diz que, “quem não treme a uma voz tão terrível, não dorme, mas está morto”. E Eusébio acrescenta que “tamanho será o espanto dos pecadores ao ouvirem a sua condenação, que morreriam de novo, se pudessem morrer outra vez”.
Então já não há suplicar, já não há recorrer a intercessores. Com efeito, a quem recorrerão? Pergunta São Basílio. Porventura a Deus, a quem desprezaram? Aos Santos? Ou a Maria? Não, pois que então as estrelas, que são os Santos, nossos advogados, cairão do céu; e a lua, quer dizer Maria, perderá a sua luz. Diz Santo Agostinho: Maria fugirá da porta do paraíso. – Ó Deus, exclama Santo Tomás de Vilanova, com que indiferença ouvimos falar do juízo, como se não pudesse ser nossa a sentença de condenação, ou como se não tivéssemos de ser julgados! Oh! Que demência é viver seguro em tamanho perigo! Se a morte nos colhesse neste instante, que sorte havia de ser a nossa?
II. Meu irmão, assim te avisa Santo Agostinho, não digas: É possível que Deus me queira mandar ao inferno? Não fales assim, diz o Santo, porque tantos réprobos não pensavam que seriam lançados ao inferno; mas afinal veio a hora do castigo: Finis venit, venit finis; … nunc complebo furorem meum in te, et iudicabo – “O fim vem, vem o fim; … agora satisfarei em ti o meu furor e te julgarei”. – Como observa São Boaventura, devemos imitar os negociantes prudentes que, para não abrirem falência, revistam e ajustam muitas vezes as contas. Devemos, acrescenta Santo Agostinho, ajustar as contas antes do juízo, porque agora podemos aplacar o juiz, mas não na hora do juízo. Devemos, numa palavra, dizer com São Bernardo: Meu divino Juiz, quero que me julgueis e me castigueis agora durante a vida, porque ainda é tempo de misericórdia e me podeis perdoar, mas, depois da morte, é só tempo de justiça: Volo indicatus praesentari, non iudicandus.
O meu Deus, reconheço, que se agora Vos não aplaco, não terei então tempo para Vos aplacar. Como, porém, Vos aplacarei eu, que tantas vezes desprezei a vossa amizade, por miseráveis prazeres? Paguei com ingratidão o vosso amor infinito. Como pode uma criatura satisfazer dignamente pelas ofensas feitas a seu Criador? Meu Senhor, graças Vos dou que a vossa misericórdia me forneceu o meio de Vos aplacar e satisfazer. Ofereço-Vos o sangue e a morte de Jesus, vosso Filho, e desde já vejo tranquilizada e superabundantemente satisfeita a vossa justiça. É preciso, porém, ajuntar a isso o meu arrependimento. Ah! Sim, meu Deus, de todo o coração me arrependo de todas as injúrias que Vos fiz.
Julgai-me agora, ó meu Redentor. Detesto, mais que todos os males, os desgostos que Vos dei. Amo-Vos sobre todas as coisas, de todo o meu coração, e proponho amar-Vos sempre e antes morrer que ofender-Vos. Prometestes perdoar a quem se arrepende; pois bem julgai-me agora e perdoai-me os meus pecados. Aceito a pena que mereço; mas restabelecei-me na vossa graça, e conservai-me nela até à morte. Assim espero. – Ó Maria, minha Mãe, agradeço-Vos tantas misericórdias que me impetrastes; dignai-vos continuar a proteger-me até o fim.
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