CONSOLAÇÃO E ARIDEZ NA VIDA ESPIRITUAL

No seu livro “A Prática do amor a Jesus Cristo”, no capítulo XVII, Santo Afonso Maria de Ligório nos ajuda a lidar com uma realidade muito presente na vida do cristão, que é a aridez espiritual. Na obra supracitada, lê-se:

“Diz São Francisco de Sales: ‘É um erro querer medir a nossa devoção através das consolações que experimentamos. A verdadeira piedade no caminho de Deus, consiste em ter uma vontade resoluta de fazer tudo o que Lhe agrada’. Deus une a Si as almas que Ele mais ama através da aridez espiritual. O que nos impede a verdadeira união com Deus é o apego às nossas inclinações desordenadas. Por isso, quando Jesus quer atrair uma alma ao Seu perfeito amor, procura desprendê-la de todos os apegos aos bens criados”.

De fato, é na aridez que o cristão dá provas de verdadeiro amor, que não se reduz a sentimentos de consolação. Santa Teresinha do Menino Jesus, que alçou grandes voos na vida espiritual, passou por momentos acentuados de secura e por muitos túneis escuros, uma verdadeira via de expiação e santificação.

Santo Afonso segue comentando: “A alma que se dá a Deus experimenta, a princípio, consolações sensíveis. O senhor procura atraí-la e desprende-la dos prazeres terrenos, para que ela vá se desapegando das criaturas e unindo-se a Ele. Contudo, pode unir-se a Ele seguindo um caminho errado, levado mais pelo gosto das consolações espirituais, do que por uma verdadeira vontade de agradar a Deus. Engana-se, pensando que tanto mais O ama, quanto mais gosto encontra nas devoções”.

Ou seja, não é no gosto pelos atos de devoção e piedade que se mede o amor a Deus, mas pela perseverança nesses atos mesmo não encontrando nenhuma consolação neles. Santa Teresa de Ávila dizia que ela preferia o Deus das consolações ao invés das consolações de Deus. Em outro trecho, Santo Afonso prossegue o tema tratando a respeito do risco de se abandonar os atos de piedade por conta de não sentir gosto neles:

“É um defeito universal de nossa fraca humanidade procurar em tudo a própria satisfação. Não encontrando nesses exercícios o prazer desejado, deixa-os ou ao menos os reduz. Reduzindo os de dia para dia, finalmente deixa-os todos. Esta desgraça acontece a muitas almas. Chamadas por Deus ao Seu amor, começam a marchar no caminho da perfeição e avançam enquanto duram as consolações espirituais, mas, depois… quando elas acabam, abandonam tudo e voltam à vida antiga. É preciso persuadir-nos de que o amor de Deus e a perfeição não consistem em sentir consolações espirituais, mas em vencer o amor próprio e fazer a vontade de Deus. Diz São Francisco de Sales: ‘Deus é tão digno de nosso amor quando nos consola, como quando nos faz sofrer’. No tempo das consolações, não é grande virtude deixar os gostos sensíveis e suportar ofensas e contrariedades. No meio das alegrias a alma suporta tudo. Essa paciência nasce, muitas vezes, mais das consolações, do que da força do verdadeiro amor a Deus.”

Portanto, é importante o cristão persuadir-se de que durante a aridez, durante a secura espiritual não deve mudar nada. Deve continuar a rezar, a frequentar os sacramentos, a fazer os seus atos de piedade e devoção como se estivesse no auge das consolações sensíveis. Pelo contrário, deve rezar mais e fazer tudo o que vinha fazendo com ainda mais afinco. É dessa forma que os santos agradam a Deus e buscam a santificação.

Marcos A. Fiorito

Teólogo e historiador

(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)

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