Toda criatura participa da glória divina. Em Deus há duas glórias: A intrínseca e a extrínseca. O Criador é alvo de Sua glória intrínseca, que existe pela Sua própria grandeza, Sua própria perfeição infinita. E as criaturas, como reflexos que são das perfeições do Criador, lhe dão glória extrínseca. Tudo isso se torna mais claro quando pensamos em Deus, por exemplo, contemplando um leão e vendo que aquele animal reflete algo de sua própria majestade. Olhando o mar, o Criador vê nele algo de Sua grandeza.

É belo considerar que a Igreja toma alguns animais como figuras de Nosso Senhor. O pelicano, por exemplo, representa a Jesus Cristo enquanto sacrifício oferecido pelo gênero humano. A Igreja o chama de pie pellicane por uma antiga crença de que o pelicano, quando não tem o que dar de comer aos seus filhotes, tira do seu próprio peito sangue para alimentá-los. São Tomás de Aquino tomou essa figura e inseriu numa das estrofes de um dos mais belos cânticos de adoração ao Santíssimo Sacramento:

Pie pellicáne, Iesu Dómine,

Me immúndum munda tuo sánguine.

Cuius una stilla salvum fácere

Totum mundum quit ab omni scélere.

Terno pelicano, Senhor Jesus

lava-me a mim, imundo, com teu Sangue,

do qual uma só gota já pode salvar

o mundo de todos os pecados.

Cristo também é intitulado Cordeiro de Deus, porque tira o pecado do mundo, como tão belamente exclamou o precursor São João Batista (Jo 1-29). Entre os animais oferecidos pelos judeus na antiguidade, estava o cordeiro, como estabeleceu o próprio Deus a Moisés antes da partida do Egito.

A glória intrínseca vem de dentro do próprio Deus. A extrínseca vem do que está substancialmente fora d’Ele, vem de suas criaturas. Pode-se contemplar um momento da glória extrínseca de Deus no Gênesis, quando Ele, depois de criar cada coisa, viu que em particular elas eram boas, mas que o conjunto era ainda melhor: “Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom” (Gn 1, 31).

Quanto aos animais domésticos, entendemos que eles agradam especialmente a Deus enquanto servem ao homem, que é uma criatura superior, sem dúvida alguma. O homem foi criado a imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 26) e a ele foi dado reinar sobre as criaturas inferiores: “Eis que eu vos dou toda a erva que dá semente sobre a terra, e todas as árvores frutíferas que contêm em si mesmas a sua semente, para que vos sirvam de alimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves dos céus, a tudo o que se arrasta sobre a terra, e em que haja sopro de vida, eu dou toda erva verde por alimento” (Gn 1 29-30).

Porém isso não dá direito ao homem de maltratar os animais, sacrificá-los ao seu bel prazer, cometer atos criminosos. Uma coisa é reinar sobre as criaturas irracionais, outra é agir de forma cruel e abusiva.

Marcos A. Fiorito

Teólogo e historiador

(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)

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