Eis mais um assunto que gera muita polêmica, sobretudo pela acusação que nos é feita por parte dos evangélicos. Segundo eles, “os católicos adoram imagens”. A prova disso são as estátuas de santos que se encontram em nossas igrejas, capelas e oratórios, além do fato de que os devotos carregam tais imagens em procissão.
Muitas pessoas ouvem essa afirmação e se deixam influenciar por ela. Porém trata-se de um grande equívoco! É um erro bastante comum interpretar os trechos da Bíblia de forma isolada e fora do contexto da época. Ou seja, na época que Deus proibiu o culto às imagens, havia uma razão muito séria para tal. E qual? Fora o povo hebreu, a maioria dos povos era pagã. Os pagãos em vez de adorarem um Deus único e verdadeiro, adoravam inúmeros deuses falsos, que, por sinal, não tinham nada de divino, pelo contrário, eram cheios de paixões e vícios, como Baco (deus da embriaguez) e Ares (sanguinário e agressivo). Um dos mais apontados na Bíblia é Baal, cuja ira era aplacada com o sacrifício de bebês. Os pagãos erguiam templos e faziam imagens de pedra, madeira, barro, etc., para serem alvo de culto. Daí o termo idolatria, que significa: ídolo = imagem + latria = adoração: adoração de imagens.
Com esses esclarecimentos, entendemos melhor o trecho de Êxodo 20, 3-6, que diz: “Não terás outros deuses diante de minha face. Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima, nos céus, ou embaixo, sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto. Eu sou o Senhor, teu Deus, um Deus zeloso que vingo a iniquidade dos pais nos filhos, nos netos e nos bisnetos daqueles que me odeiam, mas uso de misericórdia até a milésima geração com aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.”
Qualquer versículo desse texto tomado isoladamente e fora de contexto trará dúvidas a respeito do real sentido. Mas relendo à luz do que ficou dito acima, temos o seguinte: “Não terás outros deuses diante de minha face.” Ou seja, não façam como os pagãos, que adoram inúmeros deuses falsos e não amam nem temem ao Deus verdadeiro.
“Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima, nos céus, ou embaixo, sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto.” Ou seja, não acredite nesses pedaços de pedra ou pau em forma de deuses, que nada podem fazer por vocês, não podem salvá-los ou condená-los, porque Eu Sou o Senhor teu Deus, único e vivo! Quando diz “figura alguma” do que está no céu, na terra ou nas águas é porque, de fato, os pagãos idolatravam deuses que, segundo a mitologia, habitavam essas regiões. Veja o caso dos gregos, eles adoravam Zeus (céu), Poseidon (mar) e Hades (embaixo da terra).
Portanto, o trecho em questão está falando de lugares físicos e mitológicos, não sobrenaturais. O céu aí não é o Céu empíreo, onde habitam a Santíssima Trindade, anjos e bem-aventurados. Se Deus proibisse a confecção de imagens daquilo que se parece com o Céu sobrenatural, Ele próprio estaria desobedecendo a Sua lei. E isso seria inconcebível, já que Deus não erra e não faz ninguém errar. Estamos falando da ocasião em que mandou confeccionar a Arca da Aliança e mandou ladeá-la de anjos:
“Farás também uma tampa de ouro puro, cujo comprimento será de dois côvados e meio, e a largura de um côvado e meio. Farás dois querubins de ouro; e os farás de ouro batido, nas duas extremidades da tampa, um de um lado e outro de outro, fixando-os de modo a formar uma só peça com as extremidades da tampa. Terão esses querubins suas asas estendidas para o alto, e protegerão com elas a tampa […].” (Êx 25, 17-22).
Continuando a explicação anterior: “Eu sou o Senhor, teu Deus, um Deus zeloso que vingo a iniquidade dos pais nos filhos, nos netos e nos bisnetos daqueles que me odeiam, mas uso de misericórdia até a milésima geração com aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.” Aqui, o Senhor quis dizer: “Eu sou o Senhor, teu Deus!” Ou seja, não é Baal, Astarte, Apolo, Minerva etc., deuses que foram criados pela imaginação Humana.
Quando a Igreja permite que haja imagens e que elas sejam veneradas, ela é muito clara: trata-se de veneração, não adoração. Só a Deus é permitido o culto de latria (adoração); no caso de anjos e bem-aventurados, se permite a veneração. Ou seja, um devotamento, uma admiração especial pelo fato de eles já terem atingido a Glória celeste, estarem bem próximos de Deus. Nós costumamos admirar os atletas que vencem e conquistam o pódio. Os bem-aventurados, como atletas de Cristo, fizeram sua maratona e alcançaram, por fim, o pódio celeste (II Timóteo 4, 7-8).
Diz o ditado popular que o que vale é a intenção. Quando alguém devotadamente beija os pés de uma imagem de Maria, ele obviamente sabe que ali não está a Mãe de Deus. Porém ele quer dizer com isso que amaria poder beijar os pés da própria Virgem. É como a esposa viúva que vê o retrato do marido, ela passa a mão na foto, ou a beija, gesto que significa que o ama, que tem saudades dele, etc. Ou a filha que leva em sua carteira a fotografia da mãe. Portanto, não é errado o cristão olhar para uma imagem do Sagrado Coração de Jesus e dizer “Jesus, eu Vos amo!”, como não está errada a mãe que olha para um pôster do filho que mora longe e diz: “Ah, meu filho, sua mãe te ama tanto! Que saudades!”. Que desalmado assistindo essa cena diria: “Nossa, a pobre está falando sozinha! Ali só tem o pôster do filho…”.
Portanto, as imagens nos servem de piedosa recordação. Elas nos remetem a Jesus, a Maria e àqueles que chegaram antes na maratona da vida e alcançaram a Glória celeste.
Marcos A. Fiorito
Teólogo e historiador
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)
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