Entre as verdades que a Igreja nos propõe a crer, encontra-se o Purgatório, lugar de penitência criado por Deus e reservado para aqueles que morreram em estado de graça, porém não puderam expiar todas as suas penas devidas aos pecados cometidos em vida. O Catecismo da Igreja Católica, de forma bastante clara, explica que:
“Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida sua salvação eterna, passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu.
A Igreja denomina Purgatório esta purificação final dos eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados. A Igreja formulou a doutrina da fé relativa ao Purgatório sobretudo no Concílio de Florença e de Trento. […]” (§1030-1031).
Quando o catecismo afirma que o Purgatório está reservado aos que morrem na graça e amizade para com Deus, quer deixar bem clara a diferença entre as chamas purificadoras do purgatório e as do Inferno. Este último é reservado aos que morrem em estado de pecado mortal, ou seja, na inimizade para com Deus. Enquanto o Inferno é eterno, o purgatório compreende apenas o tempo necessário para que o penitente cumpra o seu período de expiação.
O Purgatório é uma grande manifestação da misericórdia divina, pois dá ao penitente a chance de quitar após a morte as dívidas que teve para com Deus durante a sua vida terrena. Uma vez livre de toda pena, ocupará o seu lugar no Céu, contemplando a face de Deus por toda eternidade. “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus!” (Mt. 4, 8).
No entanto, é comum o fiel indagar se existe nas Sagradas Escrituras fundamento para a crença no Purgatório. Sim, existe, e o mais claro e conhecido deles encontra-se no Antigo Testamento, no 2º Livro dos Macabeus: “Em seguida, fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se ele (Judas Macabeus) acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente, era esse um bom e religioso pensamento; eis por que ele pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas” (2Mc 12, 43-46).
No Evangelho de São Mateus temos que Jesus alerta para a gravidade do pecado contra o Espírito Santo: “Todo o que tiver falado contra o Filho do Homem será perdoado. Se, porém, falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão nem neste século nem no século vindouro”. A Igreja, com muita sabedoria, vê nessas palavras de Cristo “nem no século vindouro” uma alusão ao Purgatório, onde os pecados que não foram devidamente expiados em vida, poderão ser expiados após a morte (século vindouro).
No mesmo Evangelho encontramos uma parábola que fala da necessidade de pagar uma dívida até o último centavo para que o encarcerado obtenha a sua liberdade: “Então o senhor o chamou e lhe disse: Servo mau, eu te perdoei toda a dívida porque me suplicaste. Não devias também tu compadecer-te de teu companheiro de serviço, como eu tive piedade de ti? E o senhor, encolerizado, entregou-o aos algozes, até que pagasse toda a sua dívida.” (Mt. 18, 32-34).
São Paulo, se dirigindo aos coríntios, faz uma alusão à purificação através do fogo: “Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém passando de alguma maneira através do fogo.”.
Quando se fala em Purgatório, impossível não recomendar as orações e atos de piedade que nos permite lucrar indulgências, seja em nosso benefício, seja em benefício das almas dos fiéis defuntos.
Entenda o que são as indulgências através do Catecismo da Igreja Católica. Leia a partir do parágrafo 1471. Acesse: https://pocketterco.com.br/catecismo/
Marcos A. Fiorito
Teólogo e historiador
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)
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