POR QUE TANTOS ABREVIAM SUAS VIDAS?

Invariavelmente, quando alguma celebridade tira sua própria vida, as pessoas se perguntam o que a teria levado a cometer tal insensatez. Em debates sobre o assunto, as opiniões divergem: sensação de fracasso, falência do seu negócio, desilusão amorosa, depressão, desespero, uma doença incapacitante, etc.

Sejam quais forem as causas, parece haver algo em comum da parte de quem pensa em se suicidar: o fato de não enxergar uma luz no fim do túnel. Na escuridão, o panorama que se apresenta sugere não haver chances de se reverter o quadro sombrio.

Personalidades ilustres da História e do mundo artístico optaram por este terrível expediente. Entre eles, temos o rei Saul, Catão, Cleópatra, Nero, Tchaïkovski, Rommel, Getúlio Vargas, Robin Williams, Philip Seymour, etc. Dentre os casos mais marcantes, Judas continua sendo motivo de assombro. Traiu seu Mestre, sentiu remorso, porém não teve coragem de lhe pedir perdão… Enforcar-se pareceu-lhe a única saída.

No mundo, a cada 40 segundos, alguém tira a própria vida. São dados fornecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS)[1].

Entre as tentativas de explicar o porquê de se chegar a tal extremo, existem opiniões na linha de que há uma possível tendência ao suicídio embutida nas pessoas que geralmente abreviam suas vidas, porém psicólogos e psicanalistas afirmam que qualquer pessoa está sujeita à tentação de suicídio. Ou seja, qualquer um que se sinta num beco sem saída pode apelar para a pior das opções.

Outro dado alarmante também fornecido pela OMS é que em todo o mundo o suicídio é a segunda principal causa de morte entre pessoas de 15 a 24 anos de idade[2]. E não existe um perfil exato do jovem suicida, ele pode ser de família abastada ou desestruturada, drogado ou bem-comportado, com tendência à depressão ou não, bem-sucedido ou fracassado…

O suicídio sempre esteve presente na história da humanidade e sempre estará, não há como controlar isso, porém vê-se que a orfandade espiritual faz crescer o número de pessoas que procuram respostas que deem sentido às suas vidas. Muitos lutam com o objetivo de alcançar uma situação econômica confortável e, no entanto, continuam sentindo um grande vazio interior.

A falácia do consumismo é fazer o indivíduo crer que o dinheiro lhe trará felicidade. Entretanto somos constituídos de corpo e alma, espírito e matéria. O materialismo tenta preencher nossas apetências físicas com bens temporais, porém jamais poderá atender nossos apelos espirituais. Consequentemente, a sensação de que algo nos falta perdura.

Muitos estudiosos modernos de Filosofia defendem que a humanidade chegou num momento delicado, por onde ela se sente desamparada: “Na Antiguidade havia o politeísmo, então as pessoas sentiam-se amparadas pelos deuses, ainda que de forma precária. Na Idade Média, havia o teocentrismo; tudo era Providência Divina e a Igreja era a mãe de todos (Santa Madre Igreja). Vieram os racionalistas e pretenderam abolir Deus do mapa. Então a deusa razão passou a ser a madrasta da civilização. E hoje, na era do tecnicismo exacerbado, não temos deuses, nem mãe, nem madrasta…”

A impressão que se tem é bem essa, de que o mundo vive uma inequívoca orfandade espiritual.

Veja também:

ESVAZIAR-SE DE SI MESMO PARA ENCHER-SE DE DEUS

DEPRESSÃO, VAZIO INTERIOR E ORFANDADE ESPIRITUAL

[1] https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2019/09/800-mil-pessoas-se-suicidam-todos-os-anos-uma-a-cada-40-segundos.shtml

[2] https://veja.abril.com.br/saude/suicidio-e-segunda-causa-de-morte-entre-jovens-de-15-a-24-anos-diz-oms/

Marcos A. Fiorito

Teólogo e historiador

(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)

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