O título deste artigo faz pensar, naturalmente, numa comparação esdrúxula entre a homilia de um religioso e o estilo atraente e debochado de fazer humor do espetáculo de comédia stand-up. E, de fato, o que tem a ver uma coisa com a outra? Diretamente falando, nada! Elas têm objetivos distintos, embora ambas procurem atrair o público para o conteúdo de suas palavras.
Uma tem graça no sentido sobrenatural; a outra, no sentido totalmente terreno, pois provoca o riso de tal forma, que as pessoas, praticamente, se embriagam de tanto gargalhar.
Quer o sermão, quer a comédia exigem de quem os faz boa oratória. Se você não sabe falar em público, fracassará como orador. Neste sentido, o mundo conheceu grandes oradores, como Demóstenes, Cícero, Paulo de Tarso, Bernardo de Claraval, Pe. Vieira, Bossuet, Rui Barbosa, etc.
Nos seminários, os futuros sacerdotes recebem aulas de homilética (arte de pregar, fazer sermões, etc.), e no mundo existem inúmeras escolas de oratória que ensinam a nobre arte de falar em público. E discursar bem pode se transformar numa verdadeira arma. Catão (234 a.C.), senador romano, a usou para convencer a elite da cidade eterna a destruir Cartago. E assim se deu: da antiga cidade não sobrou pedra sobre pedra. E Cristo, o Verbo encarnado, o Orador dos oradores, com sua divina pregação fundou a Santa Igreja e proclamou o Reino dos Céus.
A palavra, portanto, pode condenar e também salvar. Tudo depende de quem a transmite. Porém, eis que, entre as surpresas do mundo pós-moderno, surgem pastores que inauguram uma nova forma de fazer pregação, que é trazer para suas homilias o estilo stand-up comedy. Usam linguagem sátira – e até obscena – para atrair com mais sucesso a atenção dos fiéis. São expressões engraçadas, que fazem os fiéis rirem com particularidades do dia-a-dia, descritas de forma espirituosa, etc. E vale qualquer assunto, inclusive tratar da intimidade dos esposos… Sim, isso mesmo que você leu! Vale até mesmo dirigir aos casais presentes no templo dicas voltadas para assuntos eminentemente íntimos.
Entretanto, em defesa deles, dirá um fiel entusiasta do riso:
– Mas isso prende a atenção do público, as pessoas gostam. É melhor do que muitos padres e outros pregadores que há por aí, que fazem aquele sermão maçante, pesado, que dá sono…
O sucesso deles é tão grande, que seus vídeos se espalham pelas redes sociais. E o que há de mais grave: muita gente sequer percebe o que há de equivocado nisso. As pessoas hoje estão tão distantes do ideal cristão, estão de tal forma materializadas e mundanizadas, que não se dão conta do quanto isso tudo é contrário à linguagem do Evangelho. Deus quer, sem dúvida, que seus sacerdotes progridam na arte de falar em público, progridam na forma de se expressar, que aprimorem os seus sermões, falem de modo vivo e atraente. A Igreja e seus sacerdotes têm o dever de evangelizar o mundo, obedecendo ao mandato de Cristo: “Ide, pois, e ensinai a todas as nações” (Mt 28, 19). Entretanto, o que vemos em nossos dias é o inverso: o mundo influenciando cada vez mais os cristãos e seus líderes. A sacralidade vai dando lugar à vulgaridade, os ensinamentos ao humor desenfreado, as bênçãos dando lugar às anedotas.
Em uma Santa Missa, validamente celebrada em uma igreja católica, ocorre no altar a verdadeira renovação incruenta do sacrifício de Cristo na Paixão. Então é hora de nos questionarmos: diante do “espetáculo” do Calvário, do memorial da Paixão de Jesus Cristo, mantemos o espírito de oração ou nos unimos aos escárnios, gritos e xingamentos da populaça que insulta Jesus durante a sua dolorosa via até o Gólgota: “… salva-te a ti mesmo! Se és o Filho de Deus, desce da cruz!” (Mt 27, 40).
Ao ver tanta gente rindo e aplaudindo onde se deveria esperar atenção, respeito e palavras cheias de unção sobrenatural, impossível não se recordar do que nos narra o Evangelho de Lucas (23, 34): “E Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem.”.
Marcos A. Fiorito
Teólogo e historiador
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)
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