Muito se fala do Poverello de Assis (São Francisco), porém poucos sabem em que contexto histórico ele nasceu. Após as Cruzadas, o ambiente da Europa medieval já não era aquele de costumes simples e sóbrios. O contato com o luxo, os tesouros e o requinte do Oriente despertaram no europeu um desejo desenfreado por riquezas, terras, poder e senhorio. A soberba grassava entre os nobres e senhores feudais.
Muitos abades, padres e bispos viviam de forma pouco condizente com o Evangelho, acumulando títulos, posses e dinheiro.
É diante de tal decadência, que no século XII Deus elege Giovanni Bernardone, filho de um rico comerciante, à vocação de se opor ao orgulho e à cobiça daquela época. E ele não hesita um só instante em abraçar o seu chamado. Deixa tudo, absolutamente tudo – até a roupa do corpo! – para entregar-se a uma vida de extrema pobreza, castidade e obediência heroicas. Fez questão, inclusive, de abandonar o nome de família. Doravante, chamar-se-ia apenas Francisco. “Qual Francisco? Aquele de Assis…”
Sua vida, seu exemplo e sua santidade arrastaram inúmeros outros homens de fé, que deixaram tudo para servir a Deus seguindo os conselhos evangélicos. Nascia, assim, a venerável família franciscana. E quanto bem fizeram e ainda fazem! Verdadeiramente, frearam os males daquele tempo.
Na mesma época, Deus suscita outro grande santo, Domingos de Gusmão, espanhol nascido no Reino de Castela, de família nobre. Assim como o fundador da família franciscana, São Domingos foi chamado a combater os males daquele tempo. Enquanto os franciscanos contagiaram os cristãos com o seu testemunho de vida, exemplo e simplicidade, a ordem fundada por São Domingos dedicou-se à pregação. Não à toa os dominicanos foram chamados de “cães do Senhor”, pois ladravam pelos quatro cantos as verdades do Evangelho (Domini canis). Também se destacaram pelo combate à heresia dos cátaros (ou albigenses), que muito mal fizeram no sentido de confundir os fiéis com seus erros e sofismas.
Nesse sentido, São Domingos recebeu de Maria Santíssima a ordem para que pregasse o Santo Rosário, o que o fez com zelo e total dedicação. Tanto os dominicanos quantos os franciscanos foram modelos de humildade, simplicidade, pobreza, penitência e vida de piedade. Praticaram de forma exemplar os votos de pobreza, castidade e obediência.
De certa forma, fizeram em sua época uma santa revolução, no sentido de que conseguiram fazer frente às heresias e à luxúria, que contaminavam os espíritos dos cristãos de seu tempo. Foram seguidos e imitados. Muitos engrossaram suas fileiras como frades, freiras ou irmãos da ordem terceira.
Fruto do fervor franciscano, a Europa veria ainda o desabrochar da ordem feminina com Santa Clara de Assis, mulher de envergadura espiritual admirável, virtudes heroicas e amor apaixonado a Jesus Cristo, Nosso Senhor!
É pecado acumular bens?
O problema da humanidade não está em possuir riquezas e posses, mas no apego. O dinheiro, como diz o ditado, é um ótimo servo, mas um péssimo senhor. Quando Cristo convidou o moço rico do Evangelho a segui-lo desfazendo-se dos seus bens, ele se entristeceu porque amava mais os seus bens do que a Deus. Por isso deu as costas a Jesus.
Durante a Santa Missa rezada na Casa Santa Marta em 19 de outubro de 2015, Francisco diz que “Jesus não condena a riqueza, mas o apego à riqueza”: “O apego às riquezas é uma idolatria” (…) Não é possível “servir a dois senhores”: ou se serve a Deus ou ao dinheiro[1].
No mês seguinte, em novembro de 2011, em outra homilia na casa Santa Marta, afirmou: “Bispos e sacerdotes vençam as tentações de ‘uma vida dupla’, a Igreja deve servir aos outros e não se servir dos outros”[2].
[1] https://arquidiocesesalvador.org.br/jesus-nao-condena-a-riqueza-mas-o-apego-a-riqueza/
[2] https://noticias.cancaonova.com/mundo/papa-e-triste-ver-padres-e-bispos-apegados-ao-dinheiro/
Marcos A. Fiorito
Teólogo e historiador
(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)
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