“Errar é humano”, diz o provérbio. Porém, parcela dos anjos também errou e continuará errante por toda a eternidade. Já tivemos oportunidade de dedicar outros posts a escrever sobre o pecado original, suas consequências e o papel deste no sofrimento humano. Hoje nos debruçamos em tratar a respeito do pecado que condenou parte da corte angélica à condenação perpétua.

Ensina a doutrina cristã que os anjos diferem drasticamente da natureza humana: possuem uma inteligência não racional, puramente intuitiva e muito superior à nossa. A inteligência angélica não percorre etapas de raciocínio que a leva concluir determinada coisa. Basta aos anjos olhar para um determinado objeto para conhecer sua essência com perfeição.

Não possuem matéria, são dotados de puro espírito, permitindo-lhes deslocar-se para qualquer parte do universo com a velocidade do pensamento.

Poderíamos, ainda, tratar de outros atributos marcantes da natureza angélica, entretanto não caberia no espaço de um simples post. Queremos, sobretudo, discorrer a respeito da causa que levou Lúcifer e seus sequazes à condenação, conforme as palavras de Cristo: — “Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos” (Mt 25, 41).

A Bíblia e a Tradição cristã não nos transmitiram muitos elementos a respeito do pecado dos anjos que habitam o mundo das trevas. E os teólogos divergem um tanto a respeito, porém são unânimes em reconhecer que o pecado foi de soberba e revolta à vontade divina. Outra formulação muito usada pelos autores cristãos é que houve uma “resistência à graça de Deus”.

Crê-se que Lúcifer foi um dos mais elevados anjos, provavelmente o maior de todos. O nome Lúcifer, justamente, significa “aquele que porta a luz”. Existe uma hierarquia muito grande entre os coros angélicos, tornando a diferença entre eles significativa. Um anjo imediatamente acima conhece e entende mais que o anjo que está imediatamente abaixo; e a forma de um anjo inferior “aprender” com o superior é através da iluminação de seu intelecto. Por onde podemos concluir que Lúcifer – que possuía elevado grau de conhecimento – iluminava a inteligência de inúmeros anjos, e estes, por conseguinte, prestavam-lhe especial admiração; deixando-se influenciar por ele.

“Eras um querubim protetor sobre a montanha santa de Deus (…) Foste irrepreensível em teu proceder desde o dia em que foste criado, até que a iniquidade apareceu em ti” (Ez 28, 14). Verdadeiramente Satanás deixou-se envaidecer, e de tal maneira, que não aceitou sua condição de mera criatura. Por isso diz as Sagradas Escrituras:

Tu dizias: Escalarei os céus e erigirei meu trono acima das estrelas. (…) Subirei sobre as nuvens mais altas e me tornarei igual ao Altíssimo (Is 14, 13-14).

Mas o que teria levado Lúcifer a desafiar o Criador? Uma das hipóteses mais consideradas pelos teólogos e doutores a respeito é que Deus teria revelado aos anjos – como forma de provar a fidelidade deles – que Ele criaria a raça humana e que a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Deus Filho, se encarnaria e, misteriosamente, somaria à Sua natureza Divina a débil natureza humana. Sendo assim, eles, anjos, deveriam obediência e amor absoluto a Jesus Cristo, que embora fosse verdadeiramente Deus, também seria verdadeiramente homem. Tal revelação desagradou a Lúcifer, que se revoltou contra o Senhor, levando consigo um terço dos anjos.

Enquanto Satanás se rebelava, outro anjo tomou-se de brio e defendeu com impetuosidade a causa divina. Nascia assim o partido do bem: “Houve uma batalha no céu. Miguel e seus anjos tiveram de combater o Dragão. O Dragão e seus anjos travaram combate, mas não prevaleceram. E já não houve lugar no Céu para eles” (Ap 12, 7).

Por que após o seu pecado, Lúcifer e seus anjos foram precipitados imediatamente no Inferno. Por que não tiveram a mesma chance de Adão, Eva e os demais homens de emendar-se? É justamente sobre o que trataremos no próximo post. Vai perder?

Marcos A. Fiorito

Teólogo e historiador

(Autoriza-se reprodução do artigo com citação da fonte e autor.)

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